Será que só comprar presentes é suficiente para fazer felizes nossas crianças? Basta um único dia específico no ano para lembrar delas de modo especial? Não sou contra dar presentes, nem mesmo brinquedos. Apesar de todo o progresso tecnológico, da mudança de costumes e da precocidade apresentada pelas novas gerações de espíritos que estão reencarnando, a infância é uma fase muito sensível à vida dos seres humanos. Não podemos e não devemos suprimir esta fase lúdica feita de sonhos e fantasias, desde que sem exageros.
O que não pode ser esquecido é que estas crianças, como lembra em um de seus melhores livros o ilustre Hermínio C. de Miranda, Nossos filhos são espíritos. E imortais, como sabemos.
Nossa atenção para com elas deve se dar o ano todo, a cada dia, se possível, a cada hora. Coisa que, aliás, muitos pais e mães o fazem perfeitamente, dando-lhes amor, carinho, apoio, proteção e tudo o mais que elas necessitam pela sua condição de dependentes daqueles que lhes oportunizaram o retorno à vida material para dar sequência à sua caminhada evolutiva.
Talvez, em vez de só presentes, fosse mais conveniente lhes oferecer algo de mais duradouro que possam levar para o resto de suas vidas. Um bom passeio faz bem e pode tornar-se marcante. Um show. Um filme. Uma festinha. Mas nada mais importante do que um abraço seguido de boa conversa – se já tiverem idade para isso – e o exemplo de todo dia. Isso é o que podemos dispor de melhor para elas.
Despertar as virtudes da alma
Na questão 685 de O Livro dos Espíritos, Kardec comenta que devemos buscar “não a educação intelectual, mas a moral e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar o caráter, a que cria os hábitos porque a educação é o conjunto de hábitos adquiridos”.
Muito antes de codificar a doutrina espírita, em 1828, o então professor Hippolyte Léon Denizard de Rivail, apresentou um “Plano proposto para melhoria da educação pública” da França, assim se expressando: “…a meta da educação é o desenvolvimento simultâneo das faculdades morais, físicas e intelectuais… exigindo dos pais paciência e sabedoria a toda prova, firmeza misturada à doçura, grande penetração para sondar os caracteres, grande império sobre si mesmo, vontade e força de domar as próprias paixões. A educação exige um conhecimento perfeito dos meios mais apropriados a desenvolver nas crianças as faculdades… esses meios devem ser estudados como os remédios da medicina… o mau professor faz ignorantes; o mau educador faz viciosos”.
Para Sócrates, a educação é a arte de despertar as virtudes da alma. E para Pestalozzi – mestre do próprio Kardec – é o desenvolvimento harmônico de todas as faculdades do indivíduo (físicas, intelectuais e morais) via instrução e experiência. Educar é extrair do interior e não assimilar do exterior. O exterior é a instrução e educação é desenvolvimento. Instrução é um meio e educação é o fim.
Ora, antes de se tornar homem adulto, temos a criança e nada mais adequado do que iniciar, aliás, quanto mais cedo melhor, a educação na infância. Para Jean Piaget, um dos mais importantes influentes nomes na área da educação, é até os sete anos que se constrói a infraestrutura da moral e do pensamento.
Segundo os Instrutores Superiores, o progresso intelectual antecede o moral. Significa que a instrução faz desenvolver o senso moral e alarga a consciência. Em O que é o Espiritismo, Kardec afirma que as ideias inatas referem-se ao intelecto, os “conhecimentos adquiridos em precedentes existências e que permanecem em estado de intuição, para servirem de base à aquisição dos novos e independem do meio em que o homem se educa. O meio e a educação desenvolvem as ideias inatas, por isso essa última pode fornecer a instrução necessária, mas nunca o gênio quando este não exista”. Se as ideias inatas resultam de progresso intelectual de reencarnações anteriores, o mesmo se dá com as virtudes pelo progresso moral.
Grave responsabilidade
Alguém propôs: instrução desenvolve o intelecto; a educação a moral. Instrução enriquece a inteligência; a educação fortifica o coração. É por esta, mais do que pela instrução que se transformará a Humanidade.
Se apenas a educação formal, mera transferência de conhecimentos, ou uma escola cara fosse garantia de geração de bons cidadãos, não veríamos tantos jovens classe média vandalizando o patrimônio público e privado – e isso não só nos protestos de rua. Não teríamos notícias sobre playboys dirigindo carrões a 180 Km por hora e tirando vidas no trânsito. Não teríamos tantos crimes de colarinho branco, tanta falcatrua, corrupção, tanta gente inteligente, mas imoral.
Seja bom pai e boa mãe de verdade. Não seja ausente; não fuja à grave responsabilidade de educar e orientar seu filho sobre o que é certo e o que é errado. Não negue carinho, mas não impeça o seu crescimento emocional com sua superproteção. Não transija com a permissividade, equilibrando compreensão e cumprimento de regras sociais e morais claras e firmes.
Agrade o seu filho a cada 12 de outubro, Dia da Criança, mas não deixe de presenteá-lo diariamente com amor, bons exemplos e valores espirituais. Paternidade é uma importante missão dada a homens e mulheres. Fracassar nela representará infelicidade para você e para as almas colocadas por Deus sob a sua tutela. Você é responsável pelo futuro seu, delas e de um pedacinho do mundo.
WILSON CZERSKI em Admirável mundo em que vivemos