É preciso renascer da água e do espírito: o princípio reencarnacionista no Evangelho segundo Joseval Carneiro

Blog da EME - 2025-07-25T153027.840

Progresso de leitura

No capítulo 2 da obra O que não disse Jesus, Joseval Carneiro propõe uma releitura da conhecida passagem do Evangelho de João, em que Jesus dialoga com Nicodemos e declara: “Quem não nascer de novo, não verá o Reino de Deus.” Segundo o autor, tal afirmação não se refere exclusivamente ao rito do batismo, mas representa a defesa do princípio da reencarnação como mecanismo de justiça divina e ferramenta indispensável ao progresso moral da alma.

No diálogo presente em João 3:1-12, Jesus afirma a Nicodemos:

“Quem não nascer da água e do espírito, não pode entrar no Reino de Deus.”

Ao interpretar esta passagem, Joseval Carneiro argumenta que Jesus não fazia referência ao batismo com água, mas à necessidade de um renascimento espiritual verdadeiro e contínuo, o que pressupõe múltiplas existências corporais. A perplexidade de Nicodemos, ao questionar se um homem velho poderia “voltar ao ventre de sua mãe”, é usada como exemplo da dificuldade em compreender verdades espirituais profundas, veladas na linguagem figurada de Jesus.

Para o autor, a pluralidade das existências não é apenas um postulado filosófico, mas um imperativo ético e racional que responde a dilemas fundamentais da existência:

Por que crianças nascem com deficiências severas enquanto outras têm plenas capacidades?

Por que há tamanha disparidade entre destinos humanos aparentemente aleatórios?

Como se explicam as consequências morais dos atos humanos?

A resposta de Joseval Carneiro, à luz da doutrina espírita, é clara: a reencarnação estabelece um equilíbrio moral, possibilitando ao espírito reparar seus erros e desenvolver suas virtudes ao longo de múltiplas vidas.

O autor recupera referências escriturísticas que reforçam sua tese. Uma das mais significativas é a identificação de João Batista como reencarnação do profeta Elias, expressa em Mateus 11:14 e 17:12-13.

Outros textos, como os de Isaías e de Jó, também são apontados como indícios simbólicos da ideia de continuidade espiritual e do retorno à vida material.

A frase recorrente de Jesus – “Quem tem ouvidos de ouvir, ouça” – é interpretada como um convite à interpretação profunda e desvelada das mensagens evangélicas.

Embora não se proponha como obra acadêmica, o livro de Joseval Carneiro faz referência a estudos que abordam fenômenos espirituais sob viés científico, entre eles:

Raymond Moody, com seus relatos de experiências de quase morte (EQM);

Ian Stevenson, com a documentação de memórias espontâneas de vidas anteriores em crianças;

Elisabeth Kübler-Ross e Edith Fiore, que trataram da sobrevivência da consciência e do processo de desencarne;

Hernani Guimarães Andrade, com contribuições sobre perispírito, memória extracerebral e bioenergia.

Tais pesquisas, ainda que controversas no meio acadêmico, reforçam a hipótese da continuidade da alma após a morte, em sintonia com a tese central defendida pelo autor.

Joseval Carneiro enfatiza que aceitar a reencarnação implica reconhecer a responsabilidade individual diante dos próprios atos, cujas consequências se projetam no tempo. Em vez de punições arbitrárias, a dor e as limitações humanas adquirem sentido pedagógico, oferecendo ao espírito oportunidades de aprendizado e expiação.

“Volta e reconcilia-te com teus inimigos”, ensina Jesus. Segundo o autor, esta é uma exortação clara à reparação das faltas cometidas, condição essencial para o progresso da alma. A reencarnação, nesse contexto, se estabelece como instrumento divino de educação espiritual contínua.

A vida, entendida como sucessão de experiências, deixa de ser um episódio isolado para se tornar parte de um processo educacional do espírito, fundamentado em leis universais.

Cada encarnação oferece provas, desafios e missões, que permitem à alma purificar-se, desenvolver a compaixão e atingir a perfeição relativa.

“Só o corpo procede do corpo; o espírito independe daquele. Quanto ao espírito, diz: ‘Não se sabe de onde veio nem para onde vai’.”

(O que não disse Jesus, cap. 2)

Texto publicado originalmente no JORNAL GRANDE BAHIA