Um jovem que não envelheceu, desencarnou aos 33 anos, nasceu em Belém, região da Judeia, há muitos séculos. Sua mãe era conhecida por Maria, da cidade de Nazaré; e seu pai por José, carpinteiro.
Eu nasci numa família cristã, minha mãe e irmãos eram católicos; nessa igreja fui batizado e crismado; me ensinaram a confessar e comungar. Dentro de seus dogmas, depois da morte eu ficaria dormindo, aguardando a ressurreição do corpo para o julgamento do céu ou do inferno. Mas podia-se se orar pelos mortos. Meu pai era evangélico, afirmava que o mundo já havia acabado em água e dessa vez terminaria em fogo, e isso me impressionava desde criança.
Dia de despedida
Já emancipado, conheci o Espiritismo, que me ensinou e me fez crer, por suas provas, na imortalidade da alma, conversando com aqueles que tinham partido antes de mim e de outros que viveram em outras épocas, costumes e culturas. Aceitei que aquelas pessoas que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós – tomam o trem no tempo devido; temos que ter aceitação.
Nosso dia de despedida também vai chegar, e outros continuarão mais algum tempo aqui. Iremos ao reencontro com aqueles que se foram – amigos e inimigos. Algumas pessoas que, por não entender, não aceitam os princípios espíritas, me perguntam: “por que você tem um O Evangelho segundo o Espiritismo? Vocês não aceitam o Evangelho de Jesus, vocês não são cristãos?”.
Na própria publicação que Allan Kardec fez, ele define que o “Espiritismo assenta suas bases no próprio Cristianismo e no Evangelho, do qual é simples aplicação. Eis a relação entre um e outro”¹. Como todas as religiões cristãs (e são centenas ou milhares no mundo), o Espiritismo tem sua teologia e interpretações próprias.
Com o Evangelho espírita, o codificador buscou a essência da moralidade da mensagem de Jesus, sobre a qual na verdade não há muitas discussões, e situou os princípios da doutrina: meu reino não é deste mundo; há muitas moradas na casa de meu pai; ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo; o Cristo é consolador; amar o próximo como a si mesmo; amar vossos inimigos; ser perfeito; e, entre outras lições do Mestre: fora da caridade não há salvação.
Porta libertadora
Abracei a filosofia espírita e afirmo que o primeiro passo não nos leva onde queremos ir com Jesus, mas nos retira daquela ideação de que Deus e Jesus são nossos servos e de que basta orar e pedir que vamos receber, ou que eles resolvem nossos enganos com conversa. Estou melhorando um pouco por dia.
Às vezes, vendo um barco, uma praia, uma montanha, um pão, um lírio, um passarinho ou um irmão próximo, me lembro de suas lições, quais poemas e conselhos para que eu entre pela porta estreita e construa minha casa sobre rochas.
Agora sei e acredito que a pior coisa que existe é tirar nossa liberdade de ser, de escolher e de viver. Por isso não tememos mais a morte, que é porta libertadora. Ela faz parte do nosso processo evolutivo.
ARNALDO DIVO RODRIGUES DE CAMARGO, diretor da Editora EME
¹Revista Espírita de 1861