Há 46 anos MÁRIO SURIANI trabalha e frequenta o Centro Espírita Nosso Lar, das Casas André Luiz. Começou auxiliando na evangelização infantil, na atividade de passes, e na Mocidade. Trabalhou durante 20 anos no Atendimento Fraterno orientando os espíritos e hoje trabalha na desobsessão. A escolha de Samira é seu primeiro romance em parceria com Sóror Helena. Conheça mais o autor e seu livro na entrevista abaixo
Qual a principal motivação para escrever A escolha de Samira?
Desde jovem convivi com uma situação e sempre me perguntava: Por que essa moça privou sua vida de buscar a felicidade numa vida afetiva, formando uma família etc. Mas jamais pensei que viesse dessa forma a resposta.
O que o espírito Sóror Helena deseja transmitir aos leitores com esta obra?
Basicamente a Lei de Ação e Reação e dentro dessa Lei Natural como o amor de fato cobre a multidão dos pecados.
O que os leitores encontrarão neste romance? Faça-nos uma resenha, por favor.
A historia em si emociona pela firmeza de caráter de Samira, consciente da necessidade de reparação. Atrai também pela época: as primeiras décadas após o fim da Idade Média. As navegações em busca de terras desconhecidas, as aventuras das viagens marítimas. Espanha, Portugal e Itália além das Índias, dão um colorido especial nessa história, contada por quem esteve lá.
Você tem informações sobre quem é o espírito Sóror Helena e qual a sua ligação com ele?
Sóror Helena foi praticamente o primeiro espírito que psicografei. Vinha regularmente em nossos trabalhos e deixava uma mensagem. Dentre essas mensagens deixou uma vez uma página falando de Samira. Pra mim era só mais uma mensagem. Não liguei os fatos com a história da pessoa que citei no começo dessa entrevista. Sequer passava pela minha cabeça que dali viria um livro. Passado algum tempo ela enviou mais uma mensagem relacionada àquela. Daí os companheiros de trabalho perceberam e minha orientadora encarnada que fez o prefácio dessa obra me esclareceu que dali viria um livro.
Sóror Helena é um espírito muito presente na Evangelização da América Latina. Tive poucas informações da vida dela, mas duas revelações marcaram muito além dessa atividade relatada. Na história de Samira ela está presente como a religiosa Irmã Rosa. E das pouquíssimas coisas que me revelou falou de nossa relação de mãe e filho numa existência no século 17, no tempo do Brasil Colônia, mas sem entrar em detalhes.
Como é o trabalho de psicografia com Sóror Helena?
Muito tranquilo e gratificante. Não tenho clarividência mas percebo Sóror Helena assim bem idosa e com uma calma! Aliás, teria que ter para penetrar nessa cabeça dura de teimoso. Curioso que após a conclusão da obra ela quase não participou mais. Raramente retorna trazendo alguma mensagem mas devo muitíssimo a ela a adaptação nessa tarefa de escrever as mensagens que vem do outro lado da vida.
Durante a psicografia de A escolha de Samira, você teve contato com os personagens e com o ambiente da história?
Muito. Parecia uma viagem, aliás era uma viagem. Nunca saí do Brasil nessa existência mas escrever esse livro me proporcionou emoções que nunca havia imaginado. Em relação aos personagens me tocou muito estar com Samira. Apesar da pequena participação de Isabel, mãe de Samira, foi também um Espírito que trazia uma vibração de muita ternura. As crianças também marcaram muito.
Alguma coisa mudou na sua compreensão da vida, durante a psicografia deste romance?
Eu penso que o convívio com os espíritos muda sempre nossa vida. E muda para melhor. São professores nos apresentando os mais variados temas para nosso crescimento moral. A própria reencarnação nos coloca numa obrigação para com os nossos atos. Sabemos que uma insignificante vantagem que venhamos a obter e isso traga prejuízos a outra pessoa teremos que consertar. É líquido e certo. Daí conscientes disso sabemos que não teremos atenuantes.
Você tem alguma relação com esta história transmitida por Sóror Helena? Sabia antes de alguns acontecimentos?
Não. Tenho participação discreta, mas até pelo contrário imaginava um determinado desfecho para situações em aberto durante o desenrolar da história, e quando me sentava para escrever muitas vezes vinha totalmente diferente.
A escolha de Samira trata sobre nossa liberdade de ação e os frutos que colheremos do uso dela. Qual a relação entre liberdade e responsabilidade, na visão do espiritismo?
O espiritismo se diferencia dos demais segmentos religiosos exatamente por valorizar a liberdade de cada um e sua livre escolha. Entretanto, não deixa de alertar quanto às consequências boas ou más de acordo com nossas ações. Aprendi a valorizar e a entender a liberdade que o espiritismo nos oferece lendo um pequeno aviso que em todos os lugares vem assim: “Proibido fumar”. No centro espírita quando ia as primeiras vezes eu lia: “Roga-se não fumar”. Deu para entender a diferença?
Na busca pela liberdade, existiriam limites de ações? Até que ponto podemos interferir na liberdade do outro?
Claro que tem limites ou então já não seria liberdade. Jesus não afastou os agressores que pretendiam apedrejar a adúltera proibindo eles da prática do crime. Simples e objetivo sugeriu que atirasse a pedra aqueles que estivessem sem pecado. Concluímos assim que um bom conselho é sempre bem-vindo. Uma boa orientação faz com que aquele que vai fazer mau uso de sua liberdade possa mudar o curso de toda a sua trajetória.
A defesa da liberdade estaria acima de outros valores morais?
Entendo que todos os valores morais são essenciais ao desenvolvimento do ser humano. A liberdade se bem utilizada contribuirá para a aquisição de outros valores morais.
A liberdade para homens ignorantes e viciosos, não será como arma poderosa nas mãos de uma criança?
E como aprender se não tivermos a oportunidade de exercitar nossa liberdade? Tudo a seu tempo. Uma sociedade que se eterniza num regime político após as chamadas “revoluções sociais” não consegue exercer os direitos da democracia simplesmente porque foi tolhida em seu direito de escolha. Não sabem a força que tem.
Entre outros temas que nos fazem refletir, A escolha de Samira também aborda as consequências do egoísmo. Como poderíamos distinguir o limite entre o amor próprio e o egoísmo?
Acho essa linha muito tênue. Para ser sincero não me considero em condições de passar ensinamentos nessa matéria. Você deve se amar para poder amar aos outros. Mas se você se ama demais? E o que é demais? É comum ouvir: “tal pessoa não tem amor próprio”. Por outro lado, se tem demais é convencido. No caso de Samira somente os leitores poderão dizer.
Querer ser melhor que os demais é egoísmo ou desenvolvimento necessário?
Claramente egoísmo se colocado num processo competitivo. Quando fiz o serviço militar observei que meu pelotão “era o melhor da Cia”. Minha Cia era “A melhor do batalhão” e assim ia, ou seja, entendemos o processo de se levantar o ego, mas daí a acreditar… Jesus quando chamado de bom disse que Bom era o Pai, Chico Xavier se dizia um cisco. Não somos melhores que ninguém. Estamos no mesmo barco e em tempos de Covid-19 quem não entender isso por bem vai passar maus bocados.
Como lidar com isso num mundo onde se defende que se destacar é que nos garante ‘um lugar ao sol’?
Quando a pessoa acredita nela, se prepara com seus próprios esforços para atingir seus objetivos é automático. Sabemos que nas Leis Divinas não existe injustiça. É comum ouvir de espíritas: “estou aqui fazendo essa tarefa, aquela caridade e tal porque assim meu lugarzinho lá em cima está preparado”. Ledo engano, não é? Faça automaticamente por amor sem pensar no retorno e seu “lugar ao céu” poderá estar garantido.
O egoísmo seria uma parcela da vaidade? Ou a vaidade uma parcela daquele?
Em O livro dos espíritos aprendemos que “O egoísmo é a fonte de todos os vícios”. Como nossos mestres só trazem ensinos irretocáveis não há muito o que opinar nessa questão. Fica claro, não é?
Deixe uma mensagem para nossos leitores.
Agradeço a vocês da EME pela oportunidade em me expressar através desse conceituado veículo de comunicação. Deixo o meu carinho e respeito a todos os leitores que tivemos o prazer de chegar ao convívio ainda que rapidamente e convido a todos a conhecer a história de Samira, uma existência simples, mas carregada de muita perseverança e determinação. Há equívocos em sua trajetória claro, ela é gente como a gente, de carne e osso, sentimentos, impulsividade, enfim, é sempre uma lição de vida quando a pessoa abre seu coração e permite seja trazido a público sua caminhada nesse planeta de provas. Em tempos de transição planetária o espiritismo colabora com seus sublimes ensinamentos para que entendamos e principalmente consigamos superar essa fase que nos levará alguns degraus na escala evolutiva dos mundos. Um grande abraço e fiquem com Deus.