ENTREVISTA – JULIANO FAGUNDES

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Progresso de leitura

Autor de diversos livros, pela Editora EME, JULIANO P. FAGUNDES publicou Causa e origem de nossos males (onde resgatou construções psicológicas e comportamentais construídas em nosso passado ancestral) e O governador da Terra (onde através de uma série de registros históricos, literários, evangélicos e documentais, reconstruiu a vida do Jesus histórico). Agora, com Às portas da regeneração, ele analisa o processo de regeneração do planeta e nos conta a respeito nesta entrevista exclusiva. Confira:

Qual sua motivação para escrever Às portas da regeneração?

Há 4 anos, enquanto escrevia Causa e Origem de Nossos Males, uma das referências que eu elecionei foi o historiador Yuval Noah Harari e continuei a ler suas obras. Sua visão de futuro, mesmo que às vezes cética e pessimista, me despertou para a possibilidade de entrever o que pode acontecer amanhã: do ponto de vista doutrinário, o futuro da Terra está se desenhando, num processo regenerador, mas observando o que se passa na atualidade poderíamos já ter alguma noção de como estaria esse processo? Essa possibilidade me arrebatou intensamente.

Qual objetivo desta obra?

Tratar dos desafios atuais e imediatos em nosso processo de transição planetária.

Faça um resumo do que os leitores encontrarão neste livro.

Primeiramente traz dados extremamente otimistas, que auxiliam a entender como vem se dando o progresso do mundo, os problemas que serão vencidos em breve e os desafios que exigirão nossa atenção a seguir. Eu mesmo me assustei com a quantidade conquistas positivas nos últimos milênios. Saber que a fome, as guerras e as pestes estão diminuindo em larga escala foi emocionante. A obra expõe o panorama atual do mundo e explora o que, provavelmente, virá nas próximas décadas, sob a luz da doutrina espírita, numa reflexão sobre como encarar os novos valores que se apresentam a todos nós, como o turbilhão tecnológico, as redes sociais, a biotecnologia, os sistemas políticos, a nova configuração familiar, o culturalismo, que é o novo racismo; o obscurantismo e muitos outros temas contemporâneos. Assuntos que já deveriam ter sido absorvidos em nossas discussões doutrinárias. A nova geração está aí e para eles o espiritismo só fará sentido se a doutrina os puder auxiliar a entender o contexto em que estão vivendo.

Se a Terra está chegando ao seu tempo de regeneração quais indícios, exemplos práticos, temos deste fato?

Eu trago logo no início da obra três capítulos que tratam da proximidade do fim da fome, da violência e o das pestes. São problemas que serão vencidos em algumas décadas ou no máximo em poucos séculos. A violência mata 600 mil pessoas por ano. O açúcar 1,5 milhão. Atualmente o açúcar é mais perigoso do que a pólvora. O trânsito mata 1,5 milhão ao ano. Um carro é mais perigoso que um míssil. Esses dados mostram um avanço moral. Claro que ainda temos muito o que melhorar, mas os desafios estão mudando. A obra ainda traz diversos indicadores econômicos, políticos, sociais, tecnológicos, médicos e outros tantos que nos mostram uma ascensão vertiginosa que vem acontecendo, sobretudo, nos últimos séculos.

Muitas pessoas confundem a ideia da transição com o dogma do juízo final. Como explicar esta diferença?

São maneiras diferentes de expressar a mesma coisa: o mundo de expiação e provas, como o conhecemos, vai acabar. O “julgamento final” é o degredo daqueles que não têm compromisso com o progresso. No livro do Apocalipse, João viu passar 4 cavaleiros: peste, fome, guerra e morte. O Apocalipse ainda é o melhor livro que temos sobre a transição planetária, mas é necessário ler sem se apegar muito aos excessivos símbolos e alegorias hebraicas, difíceis de serem decifrados por nós. É preciso lê-lo mais atento ao contexto do que à forma. E, do ponto de vista histórico, os dados mostram que realmente esses cavaleiros já estão passando, embora ainda possamos ouvir seus casos se afastando. No século XIX Allan Kardec literalmente matou a morte e hoje sabemos que a fome, a peste e a violência são passíveis de serem vencidos.

Por que até mesmo alguns espíritas acreditam e temem o juízo final? O sentimento de culpa pode ser a causa deste medo?

Criou-se no meio espírita uma cultura problemática em que temos que realizar uma reforma íntima urgente, desesperada. Como a evolução, tanto biológica, quanto espiritual é lenta, o sentimento de culpa surge como subproduto desse processo, já que não conseguimos nos transformar do dia para a noite. Antropologicamente, começamos a reencarnar no tipo hominídeo há 6 milhões de anos. Como na maior parte de nossas encarnações raramente vivemos mais do que 40 anos, em tese, cada um de nós viveu uma média 159 mil encarnações, jogando baixo. Ora, não existem no mundo seres humanos com aspectos de conduta ainda primitivos? O que não conseguimos em quase 200 mil encarnações, será quase impossível conseguir em apenas uma.

De que maneira a filosofia espírita pode colaborar para esta regeneração?

A filosofia espírita vem para nos esclarecer sobre os resultados de nossos atos. Traz todo um compêndio de informações que nos permite entender o que nos acontece, e também a melhor forma proceder tendo em vista a vida futura. Uma definição que adoro vem de Allan Kardec, na introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, onde ele explica ser o Evangelho, o roteiro seguro e infalível para felicidade vindoura. É isso o espiritismo: roteiro seguro e infalível para felicidade vindoura.

Individualmente, como podemos participar dessa transformação e fazer a diferença no círculo em que vivemos?

Evoluímos um passo de cada vez. A primeira revelação, com Moisés, nos ensinou que o primeiro passo é social, sermos bons cidadãos: honestos, cumpridores das leis. O que já é bem difícil: não avançar o sinal vermelho no trânsito, não roubar o troco da padaria, pagar os impostos corretamente, não lesar ninguém, apagar uma luz se não estivermos no cômodo… E, logo em seguida o segundo passo, com maior aspecto moral, que é ainda mais grave: evitar xingamentos, não mentir, ser educado, cuidar filhos, dos pais idosos, não ter vícios, não cometer adultério… Depois vem Jesus, que nos desafiou a fazer ainda mais: perdoar indefinidamente; amar o outro como amamos a nós mesmos, visitar quem está preso ou doente, cobrir quem tem frio e alimentar quem tem fome. Com certeza um desafio para ainda mais 100 mil encarnações. Mas já temos um roteiro e um guia, que é o mais importante.

Quais serão as consequências para os espíritos que não acompanharem as transformações do planeta?

Quem não se regenerar, será degredado e terá a oportunidade de recomeçar em outro planeta. Ninguém está perdido. Existem espíritos há muitas encarnações envoltos com o egoísmo e recalcitrantes no mal, comprometendo em larga escala progresso da humanidade em várias instâncias como, por exemplo, políticos corruptos, ditadores que espalham o terror e destroem nações, guerrilheiros e terroristas que lutam contra o progresso e a democracia, líderes religiosos fanáticos, assassinos frios, sexólatras que alimentam o mercado de pornografia ou prostituição, traficantes de drogas e tantos outros tipos, são esses os principais candidatos ao degredo. Dificilmente uma pessoa comum, como a maioria de nós, embora cheia de defeitos, será degredada. A maior parte da humanidade quer trabalhar, progredir, preocupa-se suas famílias e procura seguir a lei.

Jesus muito nos chamou atenção para a reforma intima, porém até hoje somos recalcitrantes em nossa mudança interior. Como a espiritualidade maior vê esse problema?

Nos veem como crianças teimosas! Nos auxiliam como irmãos mais velhos, embora não possam fazer as coisas por nós. No capítulo 16 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec reflete que, se os espíritos nos protegessem e guiassem para o caminho certo sempre, seria como se nos tratassem como “animais de estimação”, ou seja, seria um tremendo desrespeito com o livre arbítrio de cada um e aprenderíamos muito pouco no processo reencarnatório. Portanto, nos auxiliam no aprendizado, pacientemente.

Em Às portas da regeneração você trata de vários temas, mas seria possível apontar quais os fatores básicos para planejar nossa reforma íntima?

Kardec afirmou que se reconheceria o bom espírita pela sua transformação moral e os esforços que empreende para domar suas más inclinações. Em primeiro lugar vem o esforço para nos tornarmos bons cidadãos, socialmente honestos, produtivos e obedientes às leis. Depois o esforço para nos tornarmos boas pessoas, educadas, sem vícios, respeitosas, pacientes, prestativas, responsáveis e, finalmente, o esforço para desenvolver a prática da caridade e aprender a amar. É claro que todos acabamos sendo um pouco de tudo ao mesmo tempo e, mesmo às vezes furando o sinal ou soltando um palavrão num momento de raiva, sabemos amar nossos filhos e conseguimos doar sopa para cem pessoas. Esses ajustes se dão com o tempo, o importante é que já sabemos o que temos que fazer.

Em um dos temas você fala das doenças, das pandemias. Diante do atual cenário, como explicar uma epidemia pelo enfoque espírita?

Não somos mais impotentes. Frente a qualquer surto epidêmico a humanidade já sabe o que fazer. Não quer dizer que agimos tão rápido quanto necessário, mas não estamos mais no escuro. Não julgamos mais uma epidemia como uma tragédia inevitável da natureza, nem castigo divino. Imediatamente equipes médicas se prontificam, estudos são feitos, ações são tomadas e os resultados são claros. É a Lei do Progresso. Jamais podemos pensar que o mundo irá piorar, vai contra todas as leis divinas e nossa história ancestral mostra que o mundo nunca piorou entre uma era e outra. No caso da COVID19, em poucos dias após o primeiro contágio o vírus já havia sido isolado e identificado. Dois meses depois do início da pandemia, Wuhan, onde o surto começou, ensaia o retorno à normalidade. É claro que muitos são desinformados e nesse momento estão julgando a pandemia uma tragédia sem precedentes mas, historicamente, não é. O influenzavírus matou entre 50 e 100 milhões entre 1918 e 1920, num surto incontrolável que durou dois anos. Hoje esses números são impensáveis, mesmo por que somos mais saudáveis e temos mais medicamentos e recursos que no passado.

O sensacionalismo que parte da imprensa tem usado nesta pandemia do Covid-19 afeta a todos. Como os espíritas podem se proteger disto?

Uma das minhas formações é Comunicação. Estamos vivendo um momento no Brasil, em que o jornalismo informativo está sendo substituído pelo jornalismo crítico, formador de opinião, onde transbordam colunistas, críticos, comentaristas, analistas e âncoras, como se fossem artistas. O jornalismo investigativo desapareceu. Como pesquisador e como espírita eu digo a mesma coisa: fujam dos noticiários e dos veículos de mídia tradicionais. Esses veículos são sustentados pelo mercado e jamais publicarão algo que fira seus mantenedores. Busquem livros e veículos sérios. Veja um exemplo recente: o site da plataforma ArcGIS publicou um mapeamento online do surto de coronavírus no mundo, atualizado de momento a momento. Foi maravilhoso, pois pudemos ver que o Brasil estava numa posição ótima frente a grande parte do mundo. Mas estamos cercados de fake news vindas de toda parte, acusando o governo de negligência e chorando mortes como se fôssemos o país mais atingido com a tragédia, quando, na verdade, somos os 18º colocados no ranking da infecção, numa posição que indica um bom controle pandêmico, apesar das mortes. Os EUA, por exemplo, onde não existe sistema de saúde pública, se tornaram o país mais contaminado do mundo todo. O SUS, apesar de suas deficiências, mostrou uma grande força perante o planeta. E, no entanto, internamente, a mídia sensacionalista brasileira soube transformar o que seria uma grande vitória em uma horrível tragédia, desmerecendo não só o governo, mas todo o sistema de saúde brasileiro. Não estou fazendo apologia política, apenas expondo dados coletados internacionalmente. Precisamos nos informar mais e melhor.

Muitos acham que essa pandemia vai servir, por exemplo, para uma união dos povos do planeta. Isso já foi tentado antes? Será que, de fato, depois desta crise, vamos acabar com as fronteiras que separam a humanidade?

É um passo a mais nesse sentido. Emmanuel, na obra A Caminho da Luz, psicografada por Francisco Cândido Xavier, expõe o fato de que o império romano foi uma experiência dos espíritos superiores em implantar uma sociedade unificada e um governo global. Não fomos capazes de manter essa unidade devido ao nosso atraso moral, mas atualmente continuam esses esforços da espiritualidade, por isso temos ONU, União Europeia, Mercosul, OMS e outras denominações. Mas estamos aprendendo devagar: descobrimos nos últimos anos, devido à crise migratória na Europa, que um problema regional pode se tornar um problema global. Estamos despertando mais uma vez para a necessidade de pensar sobre nossas fronteiras, com o COVID19. A Alemanha recebeu pacientes italianos, o que foi um avanço. Uma coisa é certa: a humanidade vai pensar muito sobre isso nos próximos anos, justamente pelo fato de que, quanto mais as informações circularem e quanto mais nos unirmos, maiores as chances de nos salvarmos.

Neste caso, como ficariam as ideologias políticas, religiosas, etc? Seria possível uma homogeneidade no planeta? Neste cenário, o espiritismo se tornaria o presente realizado das religiões?

É interessante, pois já existe um certo alinhamento entre os povos, embora as pessoas não se deem conta disso. O talibã queima os símbolos do imperialismo americano, mas não queima dólares. A ameaça nuclear é real pois todos os povos entendem que E=mc² é uma verdade. Se você infartar na Indonésia ou na França, receberá um tratamento similar. Nas olimpíadas nos organizamos todos por países e não por outras classificações. Você pode comprar uma Coca-Cola em praticamente toda parte. No século 20, haviam três sistemas socio-políticos que se colocaram como a solução para a humanidade: O fascismo, o socialismo/comunismo e o liberalismo. O fascismo foi derrotado em 1945, com o fim da 2ª guerra. Ao dividir a China em comunas, Mao Tsé matou 45 milhões de fome e o socialismo da URSS entrou em colapso em 1991, como um dos sistemas mais corruptos e ineficientes do mundo. Hoje o liberalismo, vitorioso desse embate, segue forte e promissor, como o sistema que poderá nos unir em um sistema de governo global. Não estou falando de política, mas de história. Nunca vivemos uma época em que as pessoas fossem tão religiosas quanto hoje e, talvez por isso, estejamos vendo tantos fenômenos espíritas sendo reproduzidos nas várias denominações religiosas: padres na missa pedindo que estendamos as mãos e em programas de TV solicitando que preparemos um copo d’água para ser abençoado, ou seja, fluidificado. Igrejas protestantes praticando imposição de mãos, o conhecido passe magnético e espíritos incorporados em fiéis, dialogando com pastores, mesmo que ainda não saibam lidar com a situação. E veremos cada vez mais desses fenômenos nos próximos anos. Até os muçulmanos acreditam em espíritos e algumas mulheres fazem previsões a partir da borra de café, que é uma expressão da mediunidade. Portanto, embora o mundo de regeneração provavelmente não será espírita, os preceitos espíritas estarão muito presentes e as religiões irão aos poucos tratar de temas similares.

Ainda neste cenário, como ficariam as diferentes culturas, a diversidade humana?

As culturas estão muito permeáveis umas às outras, embora ainda julguemos que existam culturas melhores e piores, o que se chama culturalismo. Achamos que a cultura alemã é melhor do que a cultura síria, embora não necessariamente o seja. Uma mulher brasileira anda pelas ruas de cabelos soltos e vestindo o que quiser, em alguns países muçulmanos elas usam burca e numa tribo indígena a mulher anda nua. Uma acha a cultura da outra estranha, mas existiria de fato uma melhor? Cada uma vai defender sua cultura. Mas já somos capazes de aceitar as diferenças, embora ainda classifiquemos os aspectos culturais diferentes de “exótico”. O espiritismo esclarece que a melhor cultura é a que se apresenta moralmente melhor: mais fraterna, justa e igualitária. O Brasil é um grande laboratório nesse aspecto. Estamos vivendo um momento de fusão de raças, semelhante ao que aconteceu na Europa ou o Oriente Médio milênios atrás. Daqui há algumas centenas de anos o brasileiro será um povo homogêneo e não discutiremos mais raças ou cotas.

Diante da proposta de regeneração, como ficaria o papel da ciência? Haveria uma proximidade maior com as religiões, apesar da interferência que ela faz ostensivamente nas leis de reprodução, como clonagem, contracepção, inseminação artificial, entre outros?

O espiritismo é uma doutrina científica, portanto jamais se voltará contra a ciência em si, mas contra a falta de ética e o abuso nas práticas científicas. A obra Transição Planetária, de Manuel Philomeno de Miranda e psicografada por Divaldo Pereira Franco trata dessa temática. Essas ferramentas da biotecnologia são desenvolvidas pela ciência no mundo espiritual e trazidas à Terra através da encarnação de técnicos, e estão servindo à reencarnação de muitos espíritos, até de outros orbes, que não viriam de outra forma. No entanto, é preciso esclarecer que as famílias que optam por tais procedimentos estarão fazendo um bem, mas receberão no lar espíritos estranhos, adotivos, com os quais nunca tiveram contato em outras existências.

Dizem que os maiores resgates a serem cumpridos são os de dentro da família. Quando chegarmos à regeneração ainda teremos a distinção de “famílias”?

A família é o cerne do desenvolvimento do ser, onde reencontramos aqueles com os quais nos desentendemos no passado, ou os grandes amigos que conquistamos. Num mundo regenerador ainda estaremos submetidos a provações, é ainda um mundo longe da perfeição. Mas o modelo que sempre consideramos ser o de uma família tradicional está em transição: a configuração pai, mãe, filhos está se modificando. Temos avós vivendo com filhos e netos; mães ou pais divorciados cuidando sozinhos de seus filhos e casais homossexuais adotando crianças ou fazendo inseminação artificial. Temos famílias formadas por casais com 3 e até 5 pessoas, que são chamados de poliafetivas. As escolas estão atualizando esses conceitos e algumas já evitam comemorações tradicionais como dia dos pais ou o dia das mães e instituíram o dia da família. E essas situações tendem a se ampliar muito nos próximos anos, até que cheguemos a um equilíbrio. Na questão 110 do livro O Consolador, psicografado por Francisco Cândido Xavier, Emmanuel esclarece que: “A melhor escola ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do caráter. […] Na sua grandiosa tarefa de cristianização, essa é a profunda finalidade do Espiritismo evangélico, no sentido de iluminar a consciência da criatura, a fim de que o lar se refaça e novo ciclo de progresso espiritual se traduza, entre os homens, em lares cristãos, para a nova era da Humanidade”.

Em Às portas da regeneração você afirma que “a ascensão da cultura moderna, a fé foi parecendo, cada vez mais, uma escravidão mental”.  No dia em que entendermos todas as coisas acaba a necessidade da fé?

Quando, no século 18 o movimento romântico ascendeu, impulsionado pelo humanismo que vinha crescendo desde o fim da idade média, começamos a pensar mais em nós, em nossos sonhos, vocações e aspirações. Passamos a nos identificar como indivíduos e difundiu-se a importância do “ponto de vista”. A ideia de simplesmente seguir conceitos pré-determinados passou a ser questionada. Esse raciocínio descambou para a criação de uma infinidade de novos sistemas políticos, filosofias de vida, movimentos artísticos, estilos literários, práticas sociais, viciações e desregramentos diversos e, claro, na multiplicação de filosofias religiosas e denominações cristãs, cada uma com uma interpretação particular da mensagem divina. Ainda estamos nesse embalo e é muito comum ver as pessoas adaptando as revelações religiosas ao bel prazer: os católicos se confessam, oram e estão perdoados e limpos, como num passe de mágica. Os protestantes, por “aceitarem” Jesus já estão salvos, com um lugarzinho garantido no céu. O espírita doa sopa e cesta básica e acredita estar juntando bônus-hora para ir morar numa casinha em Nosso Lar. Ninguém mais acredita que vai para o inferno e todas as falhas são justificáveis. No entanto, a palavra Fé vem do latim fides, ou seja, fidelidade, ser fiel, seguir um modelo. As pessoas confundem fé com acreditar, mas fé é uma prática, é fazer igual. Se o cristão não está fazendo igual ao Cristo, então, etimologicamente, não tem fé. Portanto ainda estamos muito aquém de praticar a fé que professamos e ainda iremos reencarnar muitas vezes até nos encaixarmos nas diretrizes ensinadas por Jesus para nossa evolução espiritual. Na verdade, acredito que à medida em que conhecermos mais as coisas é que desenvolveremos a verdadeira fé.

Quando podemos reconhecer que estamos agindo imbuídos pela fé humana ou pela fé divina?

Há um desequilíbrio acontecendo. Estamos em um momento de supervalorização da fé humana. Um indicativo, por exemplo, são as famosas obras de auto-ajuda, publicadas à décadas, que falam praticamente da mesma coisa: que podemos conseguir tudo o que quisermos, que a opinião do outro não importa, que todos somos capazes de realizar feitos impossíveis etc. Tais textos nos tiraram os limites, lançando sobre nós uma alta carga de expectativa, que raramente se concretiza, pois todos temos limites. São os limites que nos ensinam. Reforma íntima não se faz sem reconhecermos nossas limitações e necessidades. Daí advém uma série de frustrações que acumulamos ao longo do tempo, reforçadas atualmente pelas redes sociais, que diariamente nos inundam com imagens e narrativas irreais sobre pessoas belas e bem sucedidas. Parece que alguém comeu nosso pedaço de bolo e ficamos sem. Penso que a fé divina irá crescer à medida em que formos nos dando conta dessa ilusão a que estamos submetidos e nossa pequenez perante Deus.

E que mensagem deixaria aos nossos leitores?

A obra Às portas da regeneração, vem para comprovar a Lei de Progresso. O mundo está, comprovadamente, cada vez melhor. Os problemas já estão sendo resolvidos e nós podemos auxiliar em todas as soluções. Jamais deixe que nada ou ninguém o convença do contrário.

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