ENTREVISTA – FÁTIMA MOURA

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Progresso de leitura

FÁTIMA MOURA é escritora, jornalista, designer gráfica, teatróloga, musicista, pedagoga e psicopedagoga clínica. Nascida em berço espírita, desde seus nove anos rabiscava histórias e peças teatrais. Hoje, seus mais de 36 livros abrangem diversas faixas etárias que variam desde a pré-alfabetização até à categoria infantojuvenil. Agora, Fátima está lançando pela Editora EME o romance mediúnico Minhas mães vivem em outro mundo. Para conhecer mais sobre a obra, leia a entrevista a seguir:

 

Qual a principal motivação para escrever Minhas mães vivem em outro mundo?

A onda de suicídio que se alastra entre nossos jovens e crianças. As notícias que nos chegam através dos noticiários e redes sociais, tem me deixado realmente entristecida. Em minhas orações, sempre peço muito a Deus pelos suicidas. Creio que a isso se deva a aproximação desse espírito, que resolveu contar uma história falando dessa temática.

O que o leitor encontrará neste romance?

O livro conta a história de Danilo que, na noite de seu aniversário de dezoito anos, ouve o pai e a tia conversando sobre a sua origem. Desesperado, sai correndo pela rua e vai até as docas, a fim de cometer suicídio por sentir-se enganado por aqueles que mais amava. Mas quando pretendia concluir seu intento e se jogar ao mar, uma mulher misteriosa aparece à sua frente e confortando-o com muito amor e carinho, o leva a entender os porquês dos sofrimentos e das alegrias da vida.

Durante a psicografia você teve contato com os personagens, o ambiente da história?

Sim, muitas coisas. Suicídio é um assunto envolvente e que implica muita responsabilidade. Em uma noite, durante o processo de psicografia, sonhei que me encontrava com um grupo de jovens suicidas e lia para eles alguns trechos do livro, fazendo uma breve palestra sobre o assunto. Outra coisa que muito me impressionou foi que uma das personagens se intitulou como “dama da Noite.” Apesar de amar flores, não conhecia nada sobre essa planta nem sobre o seu perfume, até que um dia, uma semana depois de haver terminado o romance, ao passar pela portaria do apartamento onde moro, o zelador do prédio me disse: — A senhora já viu como essas flores são lindas e perfumadas? E ao notar meu espanto e desconhecimento, continuou:  — Essa árvore se chama “Dama da Noite”, a senhora conhecia? Fiquei realmente perplexa. Creio que em muitas noites, durante a madrugada, quando estava psicografando o livro, devo ter sentido o seu perfume mas não sabia que se tratava da árvore “Dama da Noite.” Ela estava bem embaixo do meu nariz e eu não sabia.

O autor espiritual, Luiz Ignácio Fluorentini, diz ter fraquejado diante das leis divinas em outra encarnação e resolveu contar sua experiência através deste romance. Qual objetivo?

É poder ajudar tanto mais pessoas forem possíveis a aprender a valorizar a grande oportunidade que nos é concedida a cada dia, pelo grande arquiteto do Universo, que é a vida que nos acolhe e recebe. Que possamos sempre escolher a vida, enfatiza ele.

Na apresentação do livro, o mesmo espírito escreve que “a médium que me recebe” (você, Fátima Moura) também fraquejou. Pode explicar melhor?

Nasci com uma cardiopatia congênita que me deixou internada por vários períodos na infância. Com dez anos de idade, os médicos que me atendiam planejaram uma complicada cirurgia cardíaca mas, conforme fui crescendo, inexplicavelmente minha saúde foi melhorando e não julgaram mais necessário. Quando eu atingi a idade de 25 anos, já restabelecida, fiquei sabendo através de um amigo espiritual que todos aqueles problemas de saúde que apresentei na infância, se deveram a prática de suicídio, não só em uma, mas em várias encarnações anteriores. O que Luiz Ignácio me disse agora, só veio a confirmar o fato.

Por que é tão difícil aceitarmos que Deus quer apenas que cresçamos? Por que ainda vemos tudo como se fosse um castigo divino?

Segundo nos dizem os amigos espirituais, a punição divina é incompatível com o amor de Deus por nós. Viver é pedagógico, é educativo. Deus não é o juiz nem algoz de ninguém. Nós somos nossos próprios cobradores perante a nossa consciência. Quando não se tem conhecimento das verdades divulgadas pela doutrina espírita, achamos que estamos sendo punidos mas quando aprendemos que somos espíritos imortais e que iremos renascer muitas vezes a fim de consertar aquilo que não fizemos de maneira adequada no passado, tudo fica compreensível. Na Escola da vida, quando não aprendemos por amor, aprendemos pela dor.

Porém, ainda hoje, o conceito de “castigo de Deus” é muito forte, mesmo no meio espírita. Como o espírita pode se libertar deste dogma?

Durante muitos séculos essa questão da punição, de céu e inferno esteve embutida na consciência das pessoas. Como Deus nos criou simples e ignorantes, mas, a sua imagem e semelhança, nos concedendo a condição de seres que buscam a perfeição, haveria muita incoerência se E’le nos castigasse depois de haver nos dotado com o livre arbítrio, ou seja, com a nossa capacidade de escolhas. O estudo da doutrina espírita nos mostra que Deus é um Pai Amoroso e justo.

Minhas mães vivem em outro mundo também trata de suicídio. Por que ainda tantas pessoas se matam?

Segundo nos ensinam os espíritos, a causa principal do suicídio é a ociosidade espiritual. A pessoa não vê objetivos na vida e nem se sente estimulada a buscar qualquer ocupação útil. Em minha opinião, no mundo atual, a questão do consumismo desregrado também tem afetado jovens de todas as classes sociais e idades. Valoriza-se o Ter e não o SER e os jovens e crianças ficam à mercê dessas colocações da mídia que acabam influenciando-os de maneira negativa. Só e feliz quem mora em tal lugar, usa roupas da marca tal, estuda na escola tal, gerando inadequação social e a tão falada depressão, que acredito também possa estar ligada a causas do passado. Esse materialismo excessivo, o orgulho, o desconhecimento de como funcionam a Justiça e a Misericórdia Divinas, a falta de religiosidade, o bullying, perdas afetivas, alcoolismo, uso de drogas, também são fatores preponderantes, sem esquecermos também da obsessão espiritual.

Quais fatores espirituais podem levar uma pessoa ao suicídio?

Em várias obras espíritas, encontramos referências a pessoas que cometeram suicido influenciadas por espíritos obsessores. Segundo Allan Kardec, em texto da Revista Espírita, “a causa de muitos desses casos de obsessão está no passado. O próprio obsessor foi impelido ao suicídio por esse que acaba de fazer cair no abismo. O ato foi um gesto de vingança”. Mas as influências espirituais não nos eximem de responsabilidade em qualquer ato desregrado que venhamos a cometer. O obsessor não coagiu a vítima ao suicídio, apenas sugeriu. Somos todos responsáveis perante a Lei. Por isso, há a necessidade do auto perdão. Culpas não resolvidas levam a autodestruição. Abençoada doutrina espírita que os leva a entender todos os porquês.

Será que todos nós não somos suicidas em potencial quando estamos em algum estado ‘negativo’ como, por exemplo, chateados, deprimidos, aflitos, inseguros, etc, e agimos contra a Lei?

Sim, talvez sejamos e é por isso que devemos ter bastante cuidado com os nossos pensamentos, com os lugares que frequentamos, com as nossas companhias materiais e espirituais. Como um antídoto aos maus pensamentos, devemos nos esforçar para evitar o isolamento, a falta de esperança, as drogas, vícios de qualquer ordem, manter uma atitude positiva perante a vida, cultivar a religiosidade e pedir ajuda caso julgue necessário. O suicida, na realidade, não quer morrer, ele só quer matar a dor com a qual não consegue conviver.

ainda sobre este tipo de suicídio, haveria diferenças entre um suicídio direto e o “paulatino”, se podemos chamar assim?

Creio que não há nenhuma diferença entre uma ação praticada de modo súbito ou quanto as ações que praticamos todos os dias contra nós mesmos. Nos matamos um pouco a cada dia, quando ingerimos alimentos prejudiciais à nossa saúde, quando fazemos uso de álcool e drogas de qualquer espécie, quando os entregamos a sentimentos contrários ao amor. Isso também é, para mim, suicídio indireto e ocorre de maneira lenta, muitas vezes sem que a gente perceba realmente a gravidade da situação. Vejamos o caso de André Luiz no livro Nosso Lar.

Você já escreveu livros para jovens, livro sobre uso de drogas… o que você diria especificamente a respeito do suicídio para os jovens que usam drogas?

Entre os jovens e adolescentes, existe uma necessidade muito grande de autoafirmação. O sentimento de fazer parte de algo, ou de um grupo, leva a essas pessoas a fazer coisas inimagináveis. Com certeza, o arrependimento gerado através dessas ações não tardará a causar estragos nessas mentes em formação. E, com certeza, o uso de drogas é fator para que esses jovens pensem em suicídio a fim de escapar de algo com o qual não conseguem conviver. Em nosso livro Minha Escolha é viver também publicado pela Editora EME, fazemos uma abordagem bem direta sobre esse fato. Por isso, meu apelo aos jovens é para que fiquem longe das drogas, de todo e qualquer vício. E que possam cultivar sempre as melhores atitudes e pensamentos, a fim de manter uma vida saudável e plena.

Que mensagem deixaria a quem nos lê agora?

Uma mensagem direcionada as famílias, como instituição cuidadora de seus membros e responsável pela transmissão de valores éticos e morais. As crianças e os jovens necessitam de atenção redobrada, de muito e amor e atenção. Eu rogo aos pais que, mesmo separados, jamais deixem de oferecer a seus filhos uma orientação sadia e adequada às suas necessidades. Não usem só um bom discurso, sejam exemplo, amor, caridade, união. A família deve ser um portal seguro, capaz de amparar a todos os seus membros, nos dias de glória e nos momentos de queda. Paz e bem a todos!

 

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