O CATOLICISMO BUSCA RENOVAÇÃO. E O ESPIRITISMO?

Blog da EME - 2025-09-12T151108.274

Progresso de leitura

A canonização de Carlo Acutis como padroeiro da internet é mais que um gesto simbólico. É uma confissão. A Igreja, que durante séculos se fechou ao novo, agora admite: a fé precisa estar onde o povo está. E hoje o povo habita as telinhas. Carlo não negou a modernidade. Usou-a. Transformou a rede, espaço de dispersão, em púlpito. Criou com bits e códigos um templo invisível. E por isso foi canonizado.

E o Espiritismo? O que faz diante do século 21? Vai se encolher em fórmulas antigas? Vai se prender a um Allan Kardec congelado como estátua de museu? Ou terá coragem de fazer com o presente o que Kardec fez no passsado: investigar, dialogar, integrar ciência, filosofia e espiritualidade?

Wilson Garcia, no capítulo 20 de O Espiritismo depois do ponto final, nos alerta: “O passado é história da experiência humana que sustenta a construção do futuro no presente (…) Há tanto mal em se tornar prisioneiro do passado, quanto no ato de desprezá-lo”. Eis o dilema: cristalizar a doutrina em dogma morto ou diluí-la em modismo vazio.

Carlo Acutis mostrou que é possível o caminho do meio. Não traiu a tradição, mas a expandiu. A internet, para ele, não foi ameaça. Foi campo fértil. O Espiritismo deveria compreender: sua força não está em repetir palavras, mas em agir como doutrina viva. Como diz Garcia, na obra citada: “A verdadeira força do Espiritismo está em sua capacidade de integrar o passado ao presente, usando-o como referência, mas nunca como amarra”.

Mas o que vemos? Centros transformados em templos ritualistas. Repetição mecânica. Palestras que ecoam fórmulas gastas. É o “parasitismo” denunciado por Garcia: práticas que se alimentam do hábito, mas já não respiram. Enquanto isso, a humanidade enfrenta dilemas novos: inteligência artificial, biotecnologia, mudanças climáticas, revoluções culturais. E o Espiritismo se cala?

A Igreja ousou consagrar um santo digital. O Espiritismo ousará assumir sua vocação progressista? Ou ficará preso ao século 19, falando sozinho? O futuro exige decisão. Ou a doutrina se atualiza sem perder a essência — ou será lembrada apenas como uma ideia que poderia ter iluminado, mas preferiu adormecer.

Porque, afinal, o Espírito não vive de saudades do ontem, mas da coragem de criar o amanhã.

GEORGE DE MARCO é jornalista-redator das publicações periódicas da Editora EME